A Rádio Difusora de São João Nepomuceno Ltda completa 71 anos na noite desta terça – feira, 16 de julho
Para a construção deste texto foram consultadas informações do jornal “Voz de São João”, do ex- radialista Paulo Gotti, dos artigos do ex- colunista do jornal, Nilson Magno da Silva, e das pesquisas da jornalista Adriana de Freitas para sua monografia (2013, UFJF), reportagem e gravuras Aristides dos Santos e fotos do grupo ” Fotos Antigas de São João Nepomuceno” no Facebook.
No anos do septuagenário da emissora (2023), fizemos um levantamento de sua história. Veja abaixo.
Matéria Original :
Domingo, 16 de Julho de 2023, são 20h15: Neste exato momento a Rádio Difusora de São João Nepomuceno completa 70 anos. Conheça a história:
Esta reportagem foi postada exatamente na hora e minuto em que a emissora completa sete décadas de fundação. Você que é fã de rádio, ouvinte eventual ou ocasional da Rádio Difusora, funcionário ou ex-funcionário da emissora ou ama os assuntos e conquistas do nosso município, esse texto foi produzido para você.
Postada em 16/07, às 20h15mim
Início da década de 50, o mundo ainda lidava com as sequelas da Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas estava no poder, os programas de auditório e radionovelas estavam no auge e a primeira TV da América Latina, a TV Tupi, entrava no ar em “caráter experimental”, mas se contava nos dedos o número de brasileiros com receptores e os poucos que existiam estavam apenas no Rio de Janeiro e São Paulo.
Estamos no auge da chamada “Era de Ouro do rádio no Brasil” e a história da rádio em São João Nepomuceno começou exatamente nesta época.
Vamos à Linha do Tempo?
Ano de 1953
Às 20h15, de 16 de Julho de 1953, a rádio entrava no ar, com o prefixo e nome “ZYV- 39, Rádio Difusora de São João Nepomuceno”. A primeira voz a ser transmitida foi a de Sidney Baptista e, de acordo com o jornal Voz de São João, uma verdadeira multidão foi às ruas comemorar a primeira transmissão. A emissora foi montada pelos sócios Matheus Caldas de Oliveira (industrial), Dr. Alcebíades Araújo Porto (dentista) e Joaquim Ferreira Campos (produtor rural). Matheus foi homenageado com nome de rua, no bairro Alto dos Pinheiros.
Nessa época, os custos eram pagos através de uma espécie de “clube do ouvinte”, modelo que vigorou nas mais antigas emissoras do país durante os anos 50 e 60, no qual público e empresários, interessados em manter a programação no ar, pagavam uma mensalidade através de carnês, mas também havia a leitura de anúncios publicitários.
Até pouco tempo, a tradicional Rádio Aparecida, uma das principais emissoras católicas do mundo, localizada no Santuário de Aparecida no estado de São Paulo, ainda mantinha esse modelo de financiamento.
Nos primeiros anos da Rádio Difusora, a estação operava por algumas horas pela manhã, tarde e noite: das de 8h às 12h, das 13h às 15h e das 18h às 22 horas. Contudo, era assim com praticamente todas as emissoras do país na década de 50.
Além de operadores de som e locutores, a emissora possuía um casting com atores, músicos e maestros: a “Orquestra Melódica Olinto Guimarães de Faria” e o “Conjunto Itaborahy” animavam os programas de auditório. As radionovelas, com roteiros próprios ou baseados em peças teatrais e obras literárias “paravam a cidade”, já os músicos faziam turnês pelo interior do estado.
No intervalo das apresentações, os anúncios publicitários eram lidos “ao vivo” por locutores – anunciadores que, com a voz empostada e solene, ficavam de prontidão, falando assim que chamados.
Naqueles tempos não existiam gravadores de voz, logo, não poderia haver erro mas, se algo desse errado, todos precisavam improvisar.
A emissora possuía um casting com atores, músicos e maestros: a “Orquestra Melódica Olinto Guimarães de Faria” e o “Conjunto Itaborahy” animavam os programas de auditório. As radionovelas, com roteiros próprios ou baseadas em peças teatrais e obras literárias, “paravam a cidade”.
Os fundadores venderam a rádio em 1963.
Ano de 1963
A emissora foi adquirida pela Arquidiocese de Juiz de Fora. Neste período, a “Era de Ouro do Rádio” estava no final. Na época, a rádio foi transferida para a Rua Dr. Péricles Vieira de Mendonça (“Rua dos Correios”).
A emissora já não dispunha de auditório e nem casting com atores e músicos ( os programas de auditório e radionovelas estavam sendo extintos no rádio brasileiro), mantendo apenas locutores, discotecários (responsáveis pela catalogação, organização e limpeza dos discos) e operadores de som na “linha de frente”.
Os locutores não eram mais simples leitores de textos prontos, seguindo roteiros. Na cidade e no país começaram a surgir os primeiros comunicadores de rádio, menos formais e solenes que os antigos locutores e mais criativos e carismáticos.
Neste período, com objetivo de propagar a fé católica na região, a presença de padres nos programas era comum e a “Hora da Ave Maria”, às 18h, incrementava a parte religiosa da programação. As músicas passaram a ser executadas, exclusivamente, a partir de toca – discos.
A emissora foi adquirida pela Arquidiocese de Juiz de Fora. Neste período, a “Era de Ouro do Rádio” estava no final. Na época, a rádio foi transferida para a Rua Dr. Péricles Vieira de Mendonça (“Rua dos Correios”).
Mais uma vez, a emissora foi colocada à venda
Ano de 1971
Visando adquirir a radio, o então radialista Sinval Floriano Borges convidou para sócios seus amigos Rui Contão e seu pai Eurides Contão . Sinval, por ser radialista, ficou sendo o mais conhecido entre os três. Os anúncios já poderiam ser gravados e transmitidos em fita magnética. A concorrência com a TV- que absorveu os programas de auditório e as novelas radiofônicos- já era uma realidade e, com isso, um fenômeno surgiu: os chamados “horários nobres”, que na TV ficou sendo à noite e no rádio, pela manhã.
Os funcionários da emissora faziam transmissões externas acoplando equipamentos com microfones em linhas telefônicas (obtidas sob encomenda junto das companhias telefônicas) ou cabos esticados através de postes de energia, a partir do local da transmissão até a sede da rádio.
Dessa época em diante, os funcionários da emissora faziam transmissões externas acoplando equipamentos com microfones em linhas telefônicas (obtidas sob encomenda junto das companhias telefônicas) ou esticavam cabos através de postes de energia, a partir do local da transmissão até a sede da rádio.
Com esse recurso, eram transmitidas partidas de futebol, os desfiles de 16 de maio e de 7 de setembro, carnaval e exposições, dentre outros eventos.
Na virada das décadas de 60 para 70, iniciou-se uma reorganização das concessões de rádio e TV no Brasil. Houve um rearranjo nos prefixos e muitas emissoras mudaram de canais, a rádio começou a operar sob o prefixo “ZYL- 286” ( em substituição ao “ZYV- 39”), com frequência AM1420 KHz ( em substituição ao”1440″).
Ano de 1981
O então presidente da antiga Cia. Força & Luz Cataguases- Leopoldina, atual Grupo Energisa, Dr. Ivan Müller Botelho, estava adquirindo emissoras em Cataguases, Leopoldina, Ubá e Além Paraíba criando, posteriormente, o “Sistema Multi-Som de Rádio”.
As emissoras foram adquiridas pelo grupo com o propósito de zelar pela imagem da empresa e fornecer um canal direto de comunicação com o público residente na área de concessão da Cia. Força & Luz.
No final da gestão do Sistema Multi-Som de Rádio, as emissoras de rádio do país começaram aposentar discos e fitas magnéticas: estava começando a era do CD e dos mini-Cds, para músicas e comerciais.
Ao longo das décadas de 50 e 90, antes do advento da internet, com e-mails, chats e redes sociais, a rotina dos Correios implicava na entrega mensal de milhares de cartas na sede da rádio, contendo desde um simples recado, uma nota de falecimento ou pedido de música, até apelos por atendimento médico e procura por pessoas desaparecidas eram recebidos.
Isso sem contar as correspondências que os ouvintes entregavam pessoalmente.
A Energisa, focando o ramo de energia elétrica, decidiu desfazer das empresas de outros seguimentos e, com isso, as emissoras do Sistema Multi- Som de Rádio foram colocadas à venda.
Ano de 2004
A Emissora foi oferecida ao construtor civil Isaías Sporch Freitas, que na sua infância e juventude foi ouvinte e, já adulto, nos anos 90, tornou-se um dos maiores anunciantes da rádio.
A sua gestão se destacou por transferir a emissora de endereço (para o Edifício N º 1- foto abaixo), pela troca do antigo transmissor por outro mais moderno e adquirir uma unidade móvel (para reportagens nas ruas), além de implantar a automação, o que permitiu o funcionamento 24h/dia. E, por fim, sua gestão conduziu o processo de migração do AM para o FM.
Para a tristeza dos saudosistas, as transmissões em AM foram encerradas em 03/07/2017 com o desligamento do transmissor e o posterior desmonte da torre, localizados no bairro José Maria Fam.
O vídeo abaixo, com 67 mil visualizações, é o mais acessado no YouTube na busca “desligamento do rádio AM” (até esta data), superando, até mesmo, o registro do desligamento do AM da tradicional Rádio Globo do Rio (1220 KHz), veja o registro do momento:
Além da migração do AM para o FM (97,3 MHz), a atual gestão investiu na criação de um site que, junto das páginas nas redes sociais e a oferta de aplicativos para os sistemas IOS e Android, representam os esforços para se aliar o tradicional ao moderno.
Certamente as mudanças não terminaram por ali. Com a futura implantação da internet 5G na região, o uso crescente da Inteligência Artificial no país e a infindável evolução dos celulares pelo mundo, a rádio continuará se adaptando aos “novos tempos”, visando as futuras gerações.
Curiosidades
Você sabia que as emissoras AMs de todo Brasil eram obrigadas a divulgar, a cada hora, sua identificação ( nome da estação, cidade e prefixo)? No passado, os pilotos guiavam os aviões por sistemas de “rádio – farol”: os tripulantes não dispunham de GPS ou satélite, mas da sintonia de rádio AM e um aparelho com um mostrador, indicando a direção que vinha o sinal recebido, assim, escutando o prefixo da rádio, sabiam em que região estavam e se estavam ou não próximos de seus destinos.
Segue um dos antigos prefixos da rádio, no AM. Ao ouvi- lo, o piloto, usando um mapa, poderia manobrar o avião para o Sul, Norte, Leste ou Oeste, seguindo para o rumo desejado:
Parabéns, Rádio Difusora, por seus 70 anos!
#difusora70anos #linhadotempo #compartilhe
Nota: texto de autoria de Aristides dos Santos, funcionário entre 1992 – 1999 e 2010 – 2012.
No ano em que completa 70 anos, Rádio Difusora é reconhecida pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de SJN
