São joão Nepomuceno à beira de uma nova epidemia de Dengue: Autoridades e servidores da área de saúde também se organizam para o combate à febre Oropouche
Reportagem e edição de imagens Aristides dos Santos / Crédito das imagens: Principais Decom/ PMSJN (Israel Malthik e Márcio Heleno Sabones) e complementares de Aristides
Revisado e atualizado
COMITÊ: A REPORTAGEM DESTACA A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHOS DOS GESTORES DA ÁREA DE SAÚDE PÚBLICA MUNICIPAL, SETOR DE ENDEMIAS E AGENTES DE SAÚDE, PARA INTENSIFICAÇÃO DOS TRABALHOS DE PREVENÇÃO AO RISCO DE EPIDEMIA DE DENGUE E A FORMAÇÃO DE CRIADOUROS DO CULICOIDES PARAENSIS, O MOSQUITO TRANSMISSOR DA FEBRE OROPOUCHE EM SÃO JOÃO NEPOMUCENO. CONVÉM RESSALTAR QUE O PRÓPRIO ESTADO DE MINAS GERAIS ESTÁ SOB RISCO DE UMA NOVA EPIDEMIA DE DENGUE.

O município de São João Nepomuceno está preparado para enfrentar a febre Oropouche?
A resposta é objetiva: Não! E, possivelmente, a maioria dos municípios da região também não.
E a explicação é simples. No nosso caso, o último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti ( Lira), relacionado à identificação de criadouros do Aedes aegypti em São João Nepomuceno, realizado nos primeiros dias do ano, está em 4,2%, sendo que o aceitável pela OMS é 1% , ou seja, altíssimo (no levantamento anterior, realizada em outubro, o índice foi de 1,8%).
O município já teve epidemia de Dengue nos últimos cinco anos e, ao longo deste tempo, os indicadores foram de excelentes à lamentáveis, como é o caso do levantamento mais recente, acenando com a real possibilidade de uma nova epidemia. As condições de proliferação do CULICOIDES PARAENSIS, O MOSQUITO TRANSMISSOR DA FEBRE OROPOUCHE são, basicamente, as mesmas, logo, parte da população está nos empurrando para um perigo em dobro…
Quem combate às condições de proliferação do Aedes aegypti não só previne a Dengue ( Zika e Chikungunya, por tabela) como também colabora de forma decisiva para impedir que São João Nepomuceno se iguale (ou supere) à Piau, onde as autoridades estaduais e municipais estão debruçadas em um grande pesadelo, que é o de mobilizar a população para evitar uma epidemia de febre Oropouche e manter a situação sob controle.
Por lá, 85 casos confirmados, há exames em andamento e, em paralelo, há a subnotificação ( Veja aqui a reportagem da emissora sobre a situação em Piau).
Embora muitos munícipes não conheçam o município de Piau, ele não está longe, pertence à região de Rio Novo e está poucos minutos de distância de Coronel Pacheco. Falando nisso, Coronel Pacheco e outro município vizinho, o de Tabuleiro, além de Juiz de Fora e também Rio Novo, já apresentam um caso desta febre em cada um deles.
Diante dos desafios, o Poder Público de São João nepomuceno quer se antecipar aos fatos, diante do risco do surgimento da febre o Oropouche por aqui, e também do risco de uma nova epidemia de Dengue.
Frente a estes desafios, foi montado na manhã desta quarta-feira (15), no Museu Municipal, um comitê de enfrentamento às arboviroses, com a participação de servidores públicos lotados em diferentes áreas da prefeitura, com a missão de alinhar procedimentos e estratégias de combate e prevenção e estabelecer uma comunicação eficaz com a população (Veja aqui o que já publicamos sobre o assunto).
ALGUNS POSICIONAMENTOS
Com o objetivo de resumir a reunião, selecionamos algumas falas, dirigidas a esta reportagem ou ao Departamento de Comunicação da PMSJN.
Antônio Rodrigues, recém empossado Secretário Municipal de Saúde, informou a esta reportagem que São João Nepomuceno ainda não registrou casos da febre, enfatizando que a criação deste comitê é iniciativa da gestão Tony Calegaro e Ricardo Itaborahy, que está se organizando para trabalhar de maneira focada e eficaz nestes assuntos discutidos na reunião.
Antônio acumula uma experiência de 15 anos na gestão do Hospital São João e agora está à frente da saúde pública municipal.

Já o experiente Luiz Cláudio Matozinhos, agente de saúde há quase 30 anos, teme que os esforços de conscientização junto da população fiquem no “lugar comum”, ele entende a necessidade de sensibilizar à população sem fazer terrorismo, e indicou que os números preocupam muito e que é necessário buscar mecanismos mais contundentes de mobilização da sociedade.
Ele explicou que o descuido de parcela da população e a estação chuvosa criaram as condições para proliferação de criadouros, explicando o elevado índice do último levantamento.

Paula Danelon destacou, durante a reunião de formação do comitê, que uma das maiores preocupações da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Obras, pasta sob sua responsabilidade, é em relação a destinação de pneus descartados pelas borracharias.
Ela lamentou o fato do comércio local não ter encontrado meios de eliminar pneus inutilizados, responsabilidade da iniciativa privada, especificamente das borracharias, situação alarmante que acaba recaindo sobre o Poder Público, no que diz respeito à limpeza e saúde públicas.
Os pneus abandonados ao tempo acumulam água de chuva e são um verdadeiro pesadelo para os agentes de endemias em São João Nepomuceno, ao serem reconhecidos como criadouros perfeitos para o Aedes aegypti. Ela comentou sobre a necessidade de encontrar um caminho sustentável para resolver esta situação, além de informar a intensificação dos mutirões de limpeza, em andamento.

Para Alan Fernandes, Diretor de Vigilância em Saúde, a prevenção e o controle de doenças endêmicas como a dengue e a febre Oropouche exigem um esforço conjunto e coordenado das autoridades municipais, dos profissionais de saúde e da comunidade.
Esse alinhamento também passa por emissão e compartilhamento de laudos e resultados de exames que geram dados realistas, em curto espaço de tempo, para alimentar os sistemas informatizados do SUS e gerar notificações às unidades de saúde.
A integração entre os diversos setores, incluindo vigilância sanitária, hospital, unidades básicas de saúde e laboratórios particulares, é essencial para garantir um fluxo contínuo de informações e a implementação eficaz de medidas de controle. A informação precisa direciona as ações de maneira conveniente.

O Setor de Endemias e os agentes desempenham papel crucial nesse processo de identificação de criadouros, uma vez que faz parte da rotina destes profissionais o combate ao mosquito transmissor dessas doenças (Aedes aegypti para dengue e Culicoides para a febre Oropouche).
Porém, sozinhos não serão capazes de arcar com a nobre missão de reduzir e manter os indicadores sob controle. A população precisa fazer a sua parte.
Já para o Departamento de Comunicação da prefeitura fica o desafio de conscientizar e mobilizar a população para que proprietários de imóveis, residenciais ou comerciais, e de terrenos correspondam com o chamamento das autoridades de Saúde Pública e atuem, alinhados com a campanha.
Foi consenso na reunião do comitê que as estratégias de comunicação adotadas no passado já estão no “lugar comum”, havendo a necessidade de se discutir novas linguagens e abordagens que possam retirar de boa parte da população à indiferença aos alertas persistentes, renovados ano a ano.
O jornalista Márcio Heleno Sabones, membro do Departamento, é adepto das constantes revisões das abordagens e linguagens das campanhas, incluindo depoimentos de acometidos pela doença. Ele revelou que também já sofreu com a Dengue e seus sintomas mais graves. Sabones disse que “parecia que iria morrer“.

Vale salientar que a municipalidade também se esforça por buscar parcerias com escolas, associações comunitárias e outras instituições, visando ampliar a conscientização.
Liliane Barroso, representando o setor da educação pública municipal, compartilhou com os presentes os esforços dos educadores e dirigentes de educação do município na formação da cidadania, já em sala de aula. Ela salientou que, muitas vezes, as crianças acabam educando os seus pais, ao repassarem aos seus familiares as informações, orientações e alertas recebidos nas campanhas que são desenvolvidas durante o calendário escolar.
Sobre os Agentes de Endemias: Os agentes, também representados na reunião, possuem um campo de atuação muito vasto e sacrificante: além de fiscalizar imóveis, terrenos baldios e outros locais que possam servir de criadouro, devem também realizar atividades educativas, explicando à comunidade sobre a importância de eliminar focos de água parada. Isso inclui a conscientização sobre o descarte correto de lixo, a manutenção de caixas d’água fechadas e o uso de repelentes.

Outra estratégia importante, que pode ser adotada por eles, é a intensificação das visitas domiciliares nos períodos mais críticos do ano, quando as chuvas favorecem a proliferação dos mosquitos. Durante essas visitas, os agentes de saúde podem identificar e corrigir potenciais criadouros, bem como alertar a população sobre a sintomatologia dessas doenças, a fim de garantir um diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Além das ações de controle, a criação de campanhas educativas de grande alcance, utilizando mídias locais como rádio, redes sociais, “carro de som” e panfletagem, é fundamental para garantir que as informações cheguem a todas as camadas da população- pelas mídias tradicionais ou mídias sociais.
Para a formação do comitê, estiveram presentes representantes do Conselho Municipal de Saúde, Hospital São João, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Obras e Desenvolvimento Urbano e Departamento de Comunicação (Decom).
NOTA DA REDAÇÃO
A coordenação entre esses profissionais é mais que indispensável, é inevitável pois, somente a soma destas diferentes competências e plataformas de atuação permite um enfrentamento mais eficaz da Dengue e da febre Oropouche, minimizando o risco de epidemias e protegendo a saúde da população.
Somos testemunhas do empenho da Prefeitura Municipal de São João Nepomuceno junto à população, porém, lamentamos que parcela significativa dos munícipes se mantenha indiferente aos alertas do risco da doença e à seriedade que o assunto merece, criando as condições favorecedoras para infestação dos insetos causadores das doenças mencionadas nesta reportagem.
Quem sabe 2025 será diferente e todo se movam na mesma direção, que é proteger a nossa população dos riscos, inclusive de morte ou perda de entes queridos.
O mês de janeiro já está bastante preocupante, mas como o ano só está no início, quem sabe esse Comitê venha comemorar excelentes resultados daqui alguns meses.
ACESSE QUI O TRABALHO DA DECOM, DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO NEPOMUCENO, SOBRE O COMITÊ