No Brasil e no Mundo

Opinião: atentado em escola mineira reacende medo de novos episódios de violência nas escolas


Opinião: As guerras nossas de cada dia

 

Precisamos de mais segurança, mas isso não será suficiente se o sistema não conseguir reconhecer e trabalhar traumas e frustrações, retirando das mentes infantis a baixa autoestima, o sentimento de rejeição e o medo do futuro.

Em meio aos rumores de uma nova guerra, desta vez no Oriente Médio, uma notícia não foi suficientemente divulgada pelos meios de comunicação e redes sociais.

Após meses sem registrar atentados nas dependências ou imediações de escolas públicas ou privadas, um adolescente de 14 anos tentou invadir um estabelecimento de ensino, do qual já  foi aluno, esfaqueando outros adolescentes. Isto ocorreu na antevéspera do Dia das Crianças.

O episódio,o quarto do ano no país, ocorreu na escola particular Dom Bosco, em Poços de Caldas, que tem 1.500 alunos e, ao longo de seus 47 anos de existência não tem nenhum histórico desse tipo, o que e reacendeu traumas na comunidade escolar brasileira.

O adolescente, que foi detido e espancado por populares, foi apreendido pela polícia e só não esfaqueou outros alunos porque foi contido por adultos.

Um menor veio a falecer, outros dois estão em estado grave.

O episódio traz a tona a necessidade de retomar os debates sobre a ampliação da segurança nas escolas,  principalmente públicas, as questões relacionadas ao bullying e a necessidade de maior assistência psicológica aos alunos, além de uma rede de assistência social que possa alcançar suas famílias.

A violência nas escolas  não será curada reduzindo a maioridade penal ou pela indiferença aos dramas silenciosos de meninos e meninas à “beira de um surto”.

No Brasil temos um paradoxo que mostra a dificuldade de se aplicar leis eficientes para proteger menores da violência cometida pela sociedade ou para proteger a sociedade da violência cometida por menores.

Nota-se uma grande dificuldade de realmente proteger a infância e a adolescência de abusos e violações de toda natureza, seja no seio escolar, familiar ou no lazer. O noticiário é a prova disso.

Por outra, a vida moderna parece estimular, devido a ambiente familiar ou escolar desfavoráveis, a belicosidade em crianças e adolescentes que, ora por vingança, ora por “pura maldade”,  praticam crimes.

Alguns destes crimes estimulados pela internet, território que os menores dominam bem, sendo muitas vezes “terra desconhecida” ou pouco explorada pelos pais, que desconhecem os perigos aos quais estão expostos diariamente.

É na internet que encontram, muitas das vezes, jogos ou vídeos violentos e fazem contatos com amigos virtuais duvidosos.

Também há um certo desalento nas pessoas inclinadas ao sentimento humanista em relação à Educação, que muito estimula a competição e, nem sempre, a solidariedade e cooperação. Uma amostra nem sempre grátis ( quando se paga mensalidade) da sociedade.

Sobre a questão da diversidade humana, educadores e autoridades precisam criar um ambiente escolar livre da opressão aos estudantes, devido à “aparência”, dificuldade de aprendizagem, modo de vestir, orientação sexual- já manifestada na adolescência – ou condição social não lhes deixando expostos a humilhação, principalmente aquelas mais sutis, subestimadas ou as que, nunca ocorrem na presença de um adulto.

Como escrito e cantado pelo compositor Humberto Gessinger “os muros e as grades nos protegem de quase tudo, mas nada nos protege de uma vida sem sentido”. 

E não faz sentido não ter um olhar humanista sobre o que se passa na existência de cada um. Nada justifica a violência, mas ela tem explicação e, normalmente, em menores, a violência cometida resulta de violência sofrida.

Somos da opinião que a violência cometida por crianças e adolescentes pode ser sintoma de uma violência sofrida no ambiente que a cerca, seja o familiar ou o escolar.

Precisamos de mais segurança, mas isso não será suficiente se o sistema não conseguir reconhecer e trabalhar traumas e frustrações, retirando das mentes infantis a baixa autoestima, o sentimento de rejeição, desprezo e o medo do futuro.

E a violência nas escolas  não será curada reduzindo a maioridade penal ou simplesmente desaparecerá ignorando os dramas silenciosos, às vezes suportados por longo tempo, por meninos e meninas à “beira de um surto”.

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Aristides Dos Santos

Formação: Graduação presencial em TV, Cinema, Rádio e Internet pela UNIBAN (Universidade Bandeirantes do estado de São Paulo), campus Osasco- SP. Habilitação: Trabalhos em audiovisual (cinema), atividades de radiodifusão RTV, produção de livros, revistas e jornais (impressos e digitais), criação e gestão de tráfego pago ou orgânico para internet

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