Exclusivo: Após 22 anos aflorando na terra, começam os esforços para remoção do mercúrio aflorado na Serra da Grama, Descoberto
Reportagem especial Aristides dos Santos com imagens de colaborador anônimo e informações do Portal do DER e UFJF
DESCOBERTO: PÓS 22 ANOS DE DETECTADO, COMEÇAM AS INTERVENÇÕES PARA REMOÇÃO DO MERCÚRIO AFLORADO NA SERRA DA GRAMA
Há um ano ( julho de 2023), foi lançado o Edital 053/2023A, no qual a intervenção foi orçada em um valor maior: quase 5 milhões de reais (4.865.327,20)
A origem do nome do município de Descoberto está ligada à descoberta de ouro. A mineração na região antecede ao povoamento da área que hoje compreende o município, povoamento que surgiu em decorrência da mineração.
Poucas áreas de Descoberto ainda guardam vestígios da exploração da mata, das águas e das terras em busca de ouro, contudo, a Serra da Grama (10 Km do Centro da cidade) tem muito mais que vestígios: esta localidade guarda sequelas deste passado remoto.
Inclusive, atualmente, esta localidade faz parte da Área de Preservação Ambiental Permanente.
A mineração ainda no século XIX era, eminentemente, artesanal, sem grandes riscos ambientais, contudo, os ingleses introduziram o Mercúrio na mineração em Minas Gerais.
Apesar de um grave afloramento de Mercúrio, detectado há cerca de 22 anos, a área parecia estar esquecida e abandonada, a despeito de numerosos estudos mencionando riscos de contaminação.
O Secretário de Saúde da época, Orlando Luiz, também cobrou dos órgãos ambientais levantamentos sobre o risco de um afloramento descontrolado e de contaminação ambiental. E o risco foi apontado
Diante deste risco, o Ministério Público determinou a remoção deste material e neste mês de julho de 2024, moradores da região notam a movimentação de equipes técnicas no local, onde está localizado o Ribeirão da Grama e o Ribeirão da Matinha. Essa equipe está atuando no local, na construção de um canteiro de obras.
Em 2021, o DER que, junto da FEAM ( Fundação Estadual do Meio Ambiente), ficou responsável pelas providências no local, listou uma série de ações para sanar o antigo problema. A criação de um Plano de Intervenção da Área Contaminada, com edital para contratação de empresa capaz de fazer a remoção. O valor total do edital foi de R$2,7 milhões, porém, o assunto não avançou.
Contudo, há um ano ( julho de 2023), foi lançado o Edital 053/2023A, no qual a intervenção foi orçada em um valor maior: quase 5 milhões de reais (4.865.327,20)
A EngeSolve – Soluções Ambientais Integradas, sediada em São Paulo, foi licitada, contudo, no resultado apenas constava como “em homologação”.
Estas foram as últimas menções do assunto por parte do DER no portal oficial.
Em julho deste ano, moradores da região notam uma movimentação de equipes técnicas no local, onde está localizado o Ribeirão da Grama e o Ribeirão da Matinha. Essa equipe chegou discretamente e atua silenciosamente no local. As intervenções começaram.
Parte das iniciativas listadas no ano passado, mas que ainda não havia sido implementada, até o primeiro semestre deste ano:
a) Contenção da área de remoção;
b) Dique de contenção para evitar que o metal líquido flua para o córrego;
c) Monitoramento de solo contaminado, inclusive limpeza da área;
d) Destinação final de material contaminado em Aterro Classe I;
f) Reconstituição da vegetação que for afetada pela intervenção;
e) Monitoramento ambiental futuro.
ORIGEM DO METAL
De acordo com estudos da Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisadores do Rio de Janeiro e São Paulo, interessados no assunto, o Mercúrio encontrado em Descoberto, na forma metálica, é herança da mineração inglesa no País, com destaque em Minas, entre os anos de 1850 a 1930.
Uma empresa britânica havia sido contratada pelo país, ainda na época do Império, seguindo no local mesmo após a Proclamação da República.
Não há registro da quantidade extraída na região, o que dificulta as pesquisas sobre a quantidade de mercúrio que ainda possa existir na água e no solo da área onde foi detectado afloramento deste elemento, no ano de 2002, portanto, há 22 anos.
Segundo o técnico ambientalista da DADS/JF, Lodônio de Figueiredo Souza, e que representou o diretor da DADS/JF, José Laerte e a professora da UFJF, Nádia Rezende Barbosa na apresentação de resultados de alguns destes estudos, é possível que de 1 a 1,5 toneladas de ouro podem ter sido extraídas do local.
RISCO DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
A possibilidade de contaminação de Mercúrio no solo e nas águas foi indicada por vários levantamentos ambientais, obrigando a Prefeitura Municipal de Descoberto, através do prefeito Marcos de Araújo Lima, desde o ano da descoberta de Mercúrio aflorando no solo, a mudar o local de coleta de água para o abastecimento de parte da cidade ( cerca de 10% da população da época), até então, obtida nas imediações da área afetada.
O Secretário de Saúde da época, Orlando Luiz, também cobrou dos órgãos ambientais levantamentos sobre o risco de um afloramento descontrolado e de contaminação ambiental. E o risco foi apontado, no entanto, somente agora, 22 anos após a detecção do afloramento, que as providências de remoção estão efetivamente sendo tomadas.
Vamos acompanhar o caso.