Variante Delta está sob vigilância mundial, aponta infectologista
Segundo médico Rodrigo Daniel, é provável que uma pessoa com a Delta infecte pelo menos duas vezes mais pessoas do que alguém acometido pela cepa original
A Delta, linhagem B.1.617.2, identificada pela primeira vez na Índia no final de 2020, está colocando em alerta até países com a vacinação avançada contra a Covid-19. Com sua crescente disseminação, especialistas das principais universidades europeias afirmam que a possibilidade de uma “imunidade de rebanho” é anulada.
Em entrevista à rádio Transamérica nesta segunda-feira, o infectologista Rodrigo Daniel afirmou que, em sua opinião, ainda é cedo para afirmar isso. “Quanto mais a população estiver vacinada, vamos ter uma menor circulação do vírus. Acabar com a Covid-19 com apenas duas doses da vacina aparentemente não vai acontecer, mas, na medida em que formos aplicando mais doses, avançando na faixa etária dos adolescentes, a doença vai ficar cada vez mais rara, e a tendência é ser controlada. Entretanto, talvez não com um percentual de 60%, 70% de vacinados, como algumas pessoas tinham previsto, mas talvez com um percentual maior.”
As variantes surgem de mutações no código genético do vírus como uma forma de evolução e maior resistência. Enquanto a cepa original do Sars-CoV-2, que surgiu em Wuhan, na China, tinha um valor R de 2-3, o valor R da Delta é cerca de 5-6, há pesquisadores que acreditam que o número é ainda maior. Portanto, é provável que uma pessoa com a Delta infecte pelo menos duas vezes mais pessoas do que alguém acometido pela cepa original.
Rodrigo afirma que essa maior transmissibilidade faz com que a nova variante seja dominante, substituindo as outras cepas, o que aconteceu anteriormente com a variante brasileira P1 e inevitavelmente vai acontecer com a Delta. “Em geral, as variantes altamente transmissíveis não são mais letais. Porque se ela contaminar a pessoa, fazendo com que ela adoeça muito rápido e de forma grave, esse paciente vai sair do convívio e vai ficar isolado, tendo dificuldade de transmitir o vírus para outra pessoa. Mas se ela gerar um caso leve, a tendência é que essa pessoa não seja hospitalizada e mantenha suas atividades, podendo assim ser um vetor de transmissão.”
Seguindo essa lógica, Rodrigo afirma que a tendência esperada por especialistas é de que, no futuro, surja uma variante ainda menos grave, que será a cepa dominante. Com isso, a tendência é que o coronavírus se torne um resfriado comum.
O infectologista ainda afirma que muitos enxergam a vacina como um “passaporte para a vida normal”, o que não é verdade. “A Pfizer, que era a vacina com mais eficácia que nós tínhamos, de 96%, para Delta ela já caiu para 88%, e se demorar alguns meses, depois da segunda dose, essa eficácia cai ainda mais.”
Rodrigo alerta que, mesmo para aqueles que já tiveram Covid, ou foram vacinados com a segunda dose, caso apresentem um quadro respiratório, devem se afastar e serem testados novamente, para assim evitar a transmissão a outras pessoas – principalmente as com maior fator de risco.
Casos em Juiz de Fora
Nesta segunda, Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) confirmou que o município já registra transmissão comunitária da variante Delta do coronavírus. Conforme a pasta municipal, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) tem coletado amostras na macrorregião Sudeste e conseguiu identificar oito pacientes de Juiz Fora, a partir de exames RT-PCR e sequenciamento genético, como prováveis para esta variante. A coleta de material foi realizada entre os dias 2 e 6 de agosto.
No sábado, a Prefeitura de Rio Novo também confirmou que uma idosa de 74 anos, que esteve no munícipio e morreu em Juiz de Fora, havia testado positivo para a variante Delta. Este caso, entretanto, conforme esclareceu a Secretaria de Saúde, não pertence ao município juiz-forano, apesar de a paciente ter sido admitida no Hospital Regional João Penido no dia 5 de agosto.